segunda-feira, 5 de maio de 2008

Comunicação ajuda na inclusão social

ONG promove semanalmente encontro com jovens de 12 a 17 anos que discutem alternativas a problemas enfrentados pelo município do Cabo de Santo Agostinho

Por Daniel Guedes do Jornal do Commercio

05/05/08

Todas as semanas, um grupo de 160 jovens, com idade entre 12 e 17 anos, reúne-se para discutir meios de comunicação como forma de trabalhar os problemas do município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Os encontros do projeto Pelo Direito de Comunicar, da organização não-governamental (ONG) inglesa Plan, acontecem atualmente nos distritos de Pontezinha, Ponte dos Carvalhos, Vila Boa Esperança, Charneca e Mercês e oferecem oficinas de audiovisual, radiojornalismo, radioteatro, fanzine, fotografia, direitos humanos e teatro. Ao fim de cada módulo, os participantes elaboram um trabalho para formalizar a conclusão da etapa.

O projeto começou em 2003 e já atendeu 140 jovens. Um deles é o estudante Denilson Alves, 17 anos, que hoje trabalha como monitor, ajudando outros meninos e meninas. “Passei a ver o mundo de outra forma. A vida do adolescente muda quando adquire esse tipo de conhecimento. No mundo em que vivemos, as pessoas nos privam muito de informação”, acredita o rapaz que este ano conclui os estudos no colégio.

“Se a gente não tivesse participado ia tomar o rumo que a maioria dos jovens toma. Agora temos perspectiva de ir atrás de uma faculdade, procurar um futuro melhor. Quero compartilhar aquilo que aprendi. Como disseminador vou poder abrir o horizonte de outras pessoas”, diz Júlio José do Nascimento, 18, estudante do 3º ano do ensino médio.

“Aqui no Cabo de Santo Agostinho, os adolescentes são carentes de meios de comunicação. Queremos que os jovens criem uma rede para se comunicar”, explica o coordenador do projeto, Astrogildo Gonçalves.

DIREITOS

No Clube América, no bairro de Pontezinha, um grupo de cerca de 40 pessoas discutia direitos humanos na semana passada. Estendidos em um varal, desenhos feitos pelos participantes representavam os maiores desrespeitos que a maioria vivencia ou observava na comunidade.

O tema mais lembrado pelos jovens foi a violência, reflexo direto da situação vivenciada no município. Segundo dados sobre crimes violentos letais intencionais (homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte) dos anos de 2006 e 2007, disponibilizados no site da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas (Condepe/Fidem), o município é o campeão de violência entre as cidades com mais de 100 mil habitantes. Foram registrados 96 casos.

“Tem muitos direitos, como direito à vida e ao lazer, que não são respeitados”, afirma Giovani Gomes de Oliveira, 15 anos. “Quero mostrar o que está acontecendo na rua. Quero que as pessoas vejam a violência, os assaltos, mas também as coisas boas que acontecem por aqui”, salienta Rodrigo Ferreira, 12. A fotografia e o vídeo são as armas que Deusenize dos Santos, 17, quer usar para elevar a auto-estima de sua comunidade. “Quero mostrar o lado bom das coisas. O que é ruim, o pessoal já está acostumado a ver”, diz.

Reinaldo Ramos, 15, espera ansioso pelas aulas de radiojornalismo. “O rádio é um bom meio de se comunicar e quero usá-lo como uma maneira de chamar a atenção das pessoas para os problemas”, diz Reinaldo. Ele sonha em se tornar locutor e já tem em mente a manchete que um dia quer dar. “‘Todos os jovens estão reabilitados das drogas’ é a notícia que eu queria poder dizer no rádio”.

Com apenas 13 anos, Jeferson do Nascimento preocupa-se com os danos que a degradação do meio ambiente pode trazer. “Quero fazer fotos mostrando que o homem está destruindo a natureza e mandar para o presidente”, diz o menino.

A assistente social Adriana França, facilitadora da oficina de direitos humanos, acredita que o projeto que é desenvolvido tem grande importância para a comunidade. “A comunicação funciona como estratégia de fazer os direitos humanos serem cumpridos”, salienta.

Mesmo nas primeiras oficinas, a facilitadora já observa que sua turma está engajada. “Eles têm consciência dos direitos e viram que todos precisam exercê-los, que é importante cobrar a implementação deles”, explica Adriana França.

INTERNACIONAL

Os trabalhos de conclusão das oficinas são apresentados na própria comunidade, mas também ganham o mundo. O material produzido nos anos anteriores já foi exibido em outros Estados e países. Estados Unidos, Noruega e Portugal já puderam ver a realidade local através dos olhos dos garotos.

Em 2003, um documentário sobre gravidez na adolescência, produzido pelos jovens, chegou a ganhar o prêmio internacional Child Media, da Espanha.

A iniciativa, porém, esbarra na limitação dos recursos. Os R$ 150 mil que a ONG dispõe para investir não chegam nem perto do custo real do projeto: R$ 250 mil. A quantidade de equipamentos também é limitada e foi conseguida graças a doações.

“Já temos uma câmera mini-DV digital, microfone e gravadores. Estamos buscando parcerias com a iniciativa privada”, afirma o coordenador, Astrogildo Gonçalves.

Quem quiser ajudar os 160 integrantes do projeto Pelo Direito de Comunicar deve entrar em contato com a ONG Plan através do número 2119-7575 ou pelo site da instituição, www.plan.org.br.